segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tic Tac ...

Hoje acordei mais velho.
Senti o peso dos anos nos primeiros passos.
Saí para a rua e reparei que já não sou tão novo como me sinto.
Confesso que não sei se sei envelhecer.
Acho que vou ter dificuldades em lidar com a inevitavel morte da minha juventude.
Passei quase um terço da minha vida a dormir.
O tempo não para.
Nunca fui escravo dele, mas sei que me prende desde que nasci.
Não sei quanto ainda tenho mas sei que aproveitei bem o que passou.
Sou um homem feliz.
Gosto do rosto que vejo no espelho.
Até agora consegui quase sempre ser eu.
A idade vai obrigar-me um dia a abrandar, mas até lá vou continuar ....
Não recordo com saudade os anos passados.
Lembro-os com carinho.
Digo eu.
Amanhã pode ser que já não consiga ...
Mas até lá, deixem-me passar .

Sombra

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Recordações …

Hoje não consigo escrever.
Sinto-me entorpecido.
Os dedos percorrem o teclado mas não me espelham a alma no ecrã.
Sinto me cansado …
Sem ideias …
A inspiração abandonou-me.
Por onde andarão as minhas musas?
Os quadros que pinto com palavras estão esbatidos…
Até os peixes no aquário parecem enfadados.
Esta é mesmo uma noite vazia.
Mas agora…
De repente ...
Sem saber porquê! …
Vieram-me à memória os meus que já partiram.
Nas sombras, onde a luz das velas que acendi não chega, sinto a sua presença.
É a voz do sangue que me corre nas veias.
Olho pela janela e descortino entre a névoa os seus rostos a sorrir…
É bom saber que ainda vivem dentro de mim.
A ferida aberta pela ausência já não dói.
A raiva partiu.
As lágrimas que correm já não são só tristeza.
Talvez melancolia…
Ou saudade…
As imagens são tantas que toldam a vista.
Momentos mágicos.
Sorrisos ternos…
Carinho imenso.
Paciência infinita.
Amor puro.
E o eu que sou mas ainda não era, cresceu e fez-se homem.
Ficou a divida imensa de quem não pode pagar jamais.
Um legado único.
Mil e um ensinamentos…
Uns compreendidos outros para aprender.
E já no fim do caminho.
No por do sol da vida.
A derradeira lição.
A verdade suprema.
Só morre realmente quem nunca viveu ...

Sombra

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Nome ...

Passei por ti naquela rua, sem sequer te falar.
Senti o teu olhar cravado nas minhas costas, mas não travei os meus passos.
A chuva fria dava um brilho estranho às pedras da calçada.
Ouvi um gemido a esbater-se na noite.
Ou talvez fosse um grito …
Não sei …
O barulho dos carros que passavam lá em baixo confundiu-me.
Acendi outro cigarro e fiquei a ver o fumo misturar-se com a névoa que vinha do rio.
A tua imagem regressou…
Senti de novo o cheiro a álcool e a perfume barato, como se estivesses a meu lado.
Voltei atrás e procurei a tua sombra.
Continuavas encostada à parede e o teu cabelo desgrenhado, agitou-se quando notaste a minha presença …
Estendi a mão e sem saber porquê, acariciei-te o rosto.
Olhaste-me e por entre a pintura esborratada, pareceu-me ver um sorriso!
Com um sotaque estrangeiro pediste-me dinheiro…
Falas-te da fome…
Da falta de sorte…
Do teu país distante…
Dos teus…
Vi os teus sonhos desfeitos e a garrafa a teu lado.
Apontei o bar do outro lado da rua…
Seguiste-me.
Já sentados quebrei o silêncio.
Preenchi o teu vazio…
Fiz-te ser alguém outra vez…
Mostrei-te uma parte de mim.
Deixaste-me um pedaço de ti…
A madrugada entrou pela janela discreta lá ao fundo.
O nosso tempo estava a acabar.
Quiseste mais mesmo sabendo que não…
Cruzámos a porta e a rua voltou.
O mesmo cenário de betão…
A tua esquina e o meu caminho …
Despedi-me sem palavras e respondes-te com silêncio.
O elo quebrou-se…
Afastei-me…
Os dias transformaram-se em meses…
Não voltei a ver-te.
Apesar de fugaz esse momento ainda está vivo em mim.
Foi único, como todos os outros.
Se um dia nos encontrar-mos de novo, tenho quase a certeza que não me vou esquecer de perguntar …
Como te chamas?

Sombra